Especulação imobiliária em Portugal

Francisco Lopes

Membro do departamento Financeiro do IBC

12 de Maio 2023

"O aumento dos preços dos imóveis tem gerado muitas críticas por parte dos portugueses, que consideram que o mercado imobiliário se tornou inacessível para grande parte da população, especialmente para os jovens e famílias com menor poder aquisitivo."

Com a crescente procura por habitações em Portugal, o aumento dos preços dos imóveis gerou especulação imobiliária. A especulação imobiliária é um processo em que os preços dos imóveis são inflacionados de forma exagerada, muitas vezes sem relação com a real procura. Esse fenómeno pode ocorrer em áreas com alta procura por imóveis, como nas grandes cidades, ou em regiões em que a oferta de habitação é limitada.

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A especulação imobiliária é impulsionada principalmente pela compra e venda de imóveis com fins lucrativos, muitas vezes por investidores que procuram obter grandes retornos financeiros no curto prazo. Isso tem levado muitos portugueses a procurar alternativas para adquirir ou alugar casas. Algumas delas são: Habitação social – programas do governo que oferecem casas a preços mais acessíveis; Arrendamento com opção de compra – modalidade em que o inquilino arrenda o imóvel por um período determinado e tem a opção de o comprar ao final desse mesmo período; Compra fora dos grandes centros urbanos – compra de imóveis em áreas afastadas dos grandes centros, os preços dos imóveis são mais atrativos; Partilha de imóveis – pessoas dividem o mesmo imóvel reduzindo, assim, os custos da mesma; Compra em leilão – nos leilões judiciais é possível adquirir imóveis por preços mais baixos do que os praticados no mercado.

A especulação imobiliária em Portugal é impulsionada não só pela alta procura por imóveis nas principais cidades, sobretudo em Lisboa e no Porto, onde a oferta não acompanha o ritmo da procura, como também pela entrada de investidores estrangeiros. Ambos têm contribuído para a elevação dos preços, bem como a instalação de empresas e a crescente oferta de empregos nas cidades. O aumento dos preços dos imóveis tem gerado muitas críticas por parte dos portugueses, que consideram que o mercado imobiliário se tornou inacessível para grande parte da população, especialmente para os jovens e famílias com menor poder aquisitivo. Com isso, muitas pessoas acabam por optar viver em subúrbios ou em áreas periféricas das grandes cidades, o que acaba por gerar um processo de gentrificação, em que áreas antes pouco valorizadas são valorizadas e passam a acolher moradores com maior poder aquisitivo.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes ao 3º trimestre de 2021, o preço médio dos imóveis em Portugal foi de cerca de 1.324 euros por metro quadrado. Já o salário médio mensal em Portugal nesse mesmo período foi de 1.296 euros. Isso significa que, em média, um trabalhador em Portugal precisa de trabalhar por pouco mais de um mês para conseguir comprar um metro quadrado de imóvel em Portugal.  A especulação imobiliária em Portugal também tem gerado debates em relação às políticas públicas voltadas para o setor. Algumas medidas foram adotadas, como a limitação do número de apartamentos que podem ser vendidos para investidores estrangeiros em determinadas áreas das cidades, bem como a criação de programas de habitação social. Mas será que estas medidas têm sido suficientes?

A especulação imobiliária em Portugal é um fenómeno complexo e multifacetado, impulsionado por diversos fatores, alguns deles sem capacidade de controlo. Embora algumas medidas já tenham sido adotadas para lidar com a questão, ainda há muito a ser feito para garantir que o mercado imobiliário seja mais acessível e justo para todos os cidadãos.

 

Fontes: INE, Público, Jornal de Notícias e Idealista.