A revolução ambiental chegou. Será que as empresas estão a acompanhar?

Andreia Rebocho

Membro do departamento R&D do IBC

29 de outubro de 2021

Nos últimos anos, ocorreu uma grande mudança no mundo no que toca ao consumismo e pequenos hábitos no nosso dia a dia foram alterados com o objetivo de vivermos de uma forma mais sustentável e de reduzirmos a nossa pegada ecológica. Com isto as empresas tiveram que fazer o mesmo e adaptar-se a esta nova realidade, umas forçadas por diretrizes dos governos e outras porque se reviam nesta nova forma de viver, mas será que foi mesmo assim?

Será que é assim tão simples?

A primeira vez que ouvimos falar em desenvolvimento sustentável foi em 1972[1] na primeira conferência das Nações Unidas sobre o Meio ambiente e Desenvolvimento na Suécia. Desde então foi um longo caminho até chegarmos ao ponto em que estamos hoje, um ponto em que a maior parte da população está ciente da situação em que o nosso mundo está e, pelo menos, parte dessa população está disposta a fazer algumas mudanças na sua vida para que a sustentabilidade seja uma realidade e não apenas um conceito interessante. Assim, o nosso papel enquanto cidadãos é importante, mas o papel das empresas é crucial para que a sustentabilidade seja uma realidade, devido ao forte impacto que as mesmas têm nas emissões de gases para a atmosfera durante a produção, a quantidade gigante de recursos que consomem e a quantidade de lixo que produzem. Neste artigo vamos focar-nos mais especificamente na indústria da moda.

Em 2018, o site Vox, em parceria com Timo Rissanen, fez uma publicação[2] onde explicava o porquê de as empresas pertencentes à indústria da moda, como a Burberry, H&M, Nike, Urban Outfitters e Louis Vuitton, queimarem stock que não tinha sido vendido, no final de cada ano. Através da leitura do mesmo percebemos o porquê desta indústria ser a segunda mais poluente do mundo. Produz quantidades enormes, a uma taxa de rapidez nunca antes vista, para uma quantidade de pessoas que não é real, o que impulsiona esta “solução” de queimar produtos nunca utilizados. Na publicação explicam que queimar produtos é bastante mais barato que reciclar ou desfazer os tecidos, e afirmam ser importante para a mesmas manter o máximo de exclusividade das suas peças, como forma de justificar os preços aplicados às mesmas.

"Uma solução possível (...) é doar as peças que nunca foram utilizadas"

Uma solução que seria possível e que não só traria muita visibilidade às marcas e ajudaria muitas pessoas é doar as peças que nunca foram utilizadas, não só nas localidades mais próximas como para outros países e continentes. No seguimento desta ideia somos chamados à atenção, por um artigo desenvolvido pela revista The New York Times[3], onde são apresentadas algumas razões pelas quais a doação de vestuário em alguns países africanos foi proibida. Essencialmente, a doação de vestuário estava a matar as indústrias locais que não conseguiam competir com os preços baixos que estas peças em segunda mão conseguiam alcançar.

Atualmente também já ouvimos falar em tecidos biodegradáveis[4] e devido a esta sua característica não teriam de ser desfeitos ou queimados porque eventualmente iriam se decompor reduzindo bastante o impacto ambiental desta indústria, sendo esta uma outra alternativa para as nossas empresas.

Ainda assim, percebemos que existem vários intervenientes e situações a intensificar este problema. Em primeiro lugar temos as empresas que produzem excessivamente para tentar acompanhar este novo movimento do fast fashion, ao mesmo tempo que não estão dispostas a gastar ainda mais dinheiro em peças que não trouxeram nenhuma rentabilidade, destruindo-as da maneira ambientalmente menos correta. Por outro lado, temos consumidores, que através de um comportamento excessivamente consumista, alimentam este estilo de produção. A junção destes comportamentos cria uma oportunidade de mercado aberta à exploração de várias empresas.

Assim, devemos exigir enquanto consumidores que estas empresas mudem estes hábitos que estão a prejudicar o nosso planeta e modo de vida, mas devemos também mudar o nosso comportamento enquanto consumidores. Hoje em dia é importante procurar informação sobre os produtos que consumimos e sobre as empresas que os produzem, mas mais importante que isso devemos ter noção do impacto que as nossas escolhas têm porque são os consumidores que mais influenciam o mercado e a forma como as empresas desenham o seu negócio.

A sustentabilidade do nosso planeta depende de todos, tanto do consumidor individual que escolhe beber as suas bebidas sem a palhinha descartável, como das empresas que mudam a sua forma de atuar e preferem gastar mais dinheiro, mas não desperdiçar recursos preciosos. Devemos discutir e responsabilizar os comportamentos das nossas empresas, mas devemos também fazer o mesmo com os nossos próprios comportamentos individuais. Nem todos vamos ser minimalistas, mas todos podemos mudar um comportamento que vai afetar direta ou indiretamente o nosso planeta.

Eu quero ser uma consumidora informada, e tu?