Será que o afeto maternal tem influência no nosso rendimento futuro ?

 

MADALENA SILVA

Coordenadora do departamento de Research & Development do IBC e aluna da licenciatura de Economia no ISEG

11 de Dezembro de 2024

Será que o afeto maternal tem influência no nosso rendimento futuro? Talvez esta questão nunca nos tenha passado pela cabeça, mas a verdade é que este tópico tem vindo a ser estudado por pessoas de áreas como economia, psicologia e sociologia.

De acordo com o artigo “ Maternal employment and child cognitive outcomes in the first three years of life”, quando a mãe consegue dar mais afeto ao filho nos primeiros três anos de vida isto irá impactar o desempenho cognitivo da criança. Porquê? Porque é nos primeiros anos de vida que se dá a formação de sinapse ( isto é o ponto de contacto entre os neurônios) e como podemos observar no gráfico as experiências iniciais como vias sensoriais e linguagem influenciam a formação da mesma e só com a ajuda dos pais a criança consegue desenvolver estas experiências.

No estudo realizado por Jeanne Brooks-Gun, Wen-Jui Han ,Jane Waldfogel, as autoras pretenderam responder a 3 principais questões, primeiro se quando as mães trabalham nos primeiros 3 anos de vida do bebé se isso terá impacto no desenvolvimento cognitivo, e se sim se os efeitos são mais pronunciados quando a mãe trabalha a tempo inteiro, segundo se existem subgrupos que sentem de forma mais acentuada este impacto e por fim se também o ambiente de casa e afeto maternal influenciam o desenvolvimento cognitivo.

Para começar é necessário realçar que para avaliar o desenvolvimento cognitivo da criança foram usados dois métodos: o primeiro que capturou as habilidades cognitivas das crianças como o desenvolvimento da língua, memória, solução de problemas (análise aos 15 e 24 meses) e o segundo que avaliou o conhecimento acerca das cores , identificação de letras, números, comparações e reconhecimento de formas ( análise aos 36 meses). As conclusões do estudo foram que as crianças em que as mães começaram a trabalhar a tempo inteiro aos 9 meses tiveram menor pontuação nos testes realizados aos 36 meses, e que crianças que têm pais casados e que sejam rapazes são mais influenciados, para além disso tanto o afeto maternal como o ambiente de casa (se a casa está arrumada e organizada) influenciam o desenvolvimento da criança.

Ou seja, de acordo com este artigo quando o afeto maternal é menor (quando as mães trabalham a tempo inteiro nos primeiros 3 anos de vida do bebé) isso irá impactar negativamente o desenvolvimento cognitivo da criança ,o que no futuro poderá levar a uma diminuição do rendimento, uma vez que o indivíduo tem menos capacidades cognitivas.

No entanto, outras abordagens defendem que quando a mãe começa a trabalhar mais cedo isso irá permitir melhores rendimentos para a casa e consequentemente melhor acesso a recursos e um exemplo a seguir para o filho, promovendo valores como independência. “When Does Time Matter? Maternal Employment, Children’s Time With Parents, and Child Development”

Conclusão

Assim a resposta à pergunta inicial pode depender da abordagem utilizada, por um lado segundo alguns o aumento do rendimento familiar geralmente supera os efeitos negativos da redução do tempo disponível para os filhos, segundo outros nem por isso. Ou seja, para os primeiros, como o rendimento familiar supera os efeitos negativos ,as crianças irão se desenvolver bem cognitivamente permitindo lhes ter um melhor desempenho profissional, segundo os segundos é essencial a mãe despender de tempo com a criança para isto poder acontecer.

Referências

Brooks–Gunn, J., Han, W. J., & Waldfogel, J. (2002). Maternal employment and child cognitive outcomes in the first three years of life: The NICHD study of early child care. Child development, 73(4), 1052-1072.

Hsin, A., & Felfe, C. (2014). When does time matter? Maternal employment, children’s time with parents, and child development. Demography, 51(5), 1867-1894.