Fátima Martins
Membro do departamento Financeiro do IBC e aluna da licenciatura em Gestão no ISEG
Origens da Economia Comportamental
Tradicionalmente, a economia não considerava fatores psicológicos para a tomada de decisão dos consumidores, considerava-se que os mercados eram eficientes e capazes de corrigir distorções ao longo do tempo, mesmo que os consumidores agissem de forma irracional ou tivessem informações limitadas. Com o passar do tempo, inícios da década de 50, começou a surgir a ideia de que as decisões das pessoas estão muito relacionadas com os seus hábitos e com a sua experiência pessoal e apareceu o conceito de Economia Comportamental (Ávila et al., sem data). A importância do estudo desta área tem vindo a ser reconhecida academicamente, já três Prémios Nobéis da Economia foram atribuídos em 1978, 2002 e 2013 a cientistas associados à Economia Comportamental (Ávila et al., sem data).
Afinal o que é economia comportamental e qual a sua importância?
A Economia Comportamental é uma área de estudo interdisciplinar que combina os conhecimentos de economia com conhecimentos de psicologia e outras ciências sociais de forma a entender como é que as pessoas tomam, de facto, as suas decisões financeiras na prática. O princípio que os consumidores nem sempre são racionais e que nem sempre têm acesso a toda a informação necessária para tomarem decisões e maximizarem o seu bem-estar constitui uma ideia chave para as teorias desta área. Se olharmos, por exemplo, para o sentimento de medo de perder, vemos que é responsável por evitar que as pessoas tomem riscos financeiros, algo que foi demonstrado pela Teoria das Perspetivas de Tversky e Kahneman. Esta teoria sugere que as pessoas não avaliam ganhos e perdas de forma objetiva, mas sim em relação a um ponto de referência ou “estado de referência”. Isso pode levar a comportamentos diferentes em situações de ganho e de perda (Witynski, sem data).
Outro grande exemplo que podemos considerar é o facto de existirem “empurrões” (do inglês “nudge”) para manipular o consumidor a fazer determinadas escolhas em prol de outras. Olhemos para uma prateleira de supermercado, é mais provável um consumidor escolher os produtos que estão a nível dos olhos ou comprar algo que esteja perto da caixa de pagamento enquanto espera, provando que nem sempre o consumidor nem sempre é racional (Witynski, sem data).
Um outro conceito bastante importante em Economia Comportamental são as heurísticas. Este conceito refere-se à ideia de que as pessoas recorrem mais frequentemente à informação que se lembram do que propriamente a informação verdadeira, no fundo tratam-se de regras mentais que os indivíduos usam para a tomada de decisão rápida (Edart, 2020).
As teorias desta área de estudo destacam como os investidores muitas vezes tomam decisões baseadas em emoções, vieses cognitivos e heurísticas, o que pode levar a bolhas de ativos, crises financeiras e distorções de preços de longo prazo. No entanto existem limitações: uma delas é, por exemplo, a dificuldade de medir o seu impacto na tomada de decisão. Além disso, existe o risco deste conhecimento ser usado de forma abusiva organizações, com o fim de obter mais lucro (Maia & Coelho, 2024).
Conclusão
A Economia Comportamental emergiu como uma disciplina crucial que desafia as premissas tradicionais da economia, reconhecendo a influência significativa de fatores psicológicos e comportamentais nas decisões financeiras. A interseção entre economia e psicologia tem sido fundamental para entender como as pessoas realmente tomam decisões financeiras na prática. No entanto, também enfrenta alguns desafios, como a dificuldade de medir o seu impacto nas decisões e o risco de ser explorada por organizações em busca de lucro. É crucial continuar a explorar e debater essas questões para garantir que o conhecimento em Economia Comportamental seja usado de maneira ética e benéfica para a sociedade.
Referências
Ávila, F., Ávila, M., & Bianchi, A. M. (sem data). Economia Comportamental. Obtido 20 de abril de 2024, de https://www.economiacomportamental.org/o-que-e/
Edart, E. Al. (2020). Economia Comportamental: Heurísticas.
Maia, A., & Coelho, M. (2024). Finanças Comportamentais. Obtido 20 de abril de 2024, https://www.crowe.com/pt/insights/financas-comportamentais
Witynski, M. (sem data). Behavioral economics, explained. University of Chicago Office of Communications. Obtido 20 de abril de 2024, de https://news.uchicago.edu/explainer/what-is-behavioral-economics