Economia Comportamental: Como as decisões financeiras são influenciadas por fatores psicológicos

Fátima Martins

Membro do departamento Financeiro do IBC e aluna da licenciatura em Gestão no ISEG

15 de maio de 2024

"As teorias desta área de estudo destacam como os investidores muitas vezes tomam decisões baseadas em emoções, vieses cognitivos e heurísticas, o que pode levar a bolhas de ativos, crises financeiras e distorções de preços de longo prazo."

Origens da Economia Comportamental

Tradicionalmente, a economia não considerava fatores psicológicos para a tomada de decisão dos consumidores, considerava-se que os mercados eram eficientes e capazes de corrigir distorções ao longo do tempo, mesmo que os consumidores agissem de forma irracional ou tivessem informações limitadas. Com o passar do tempo, inícios da década de 50, começou a surgir a ideia de que as decisões das pessoas estão muito relacionadas com os seus hábitos e com a sua experiência pessoal e apareceu o conceito de Economia Comportamental (Ávila et al., sem data). A importância do estudo desta área tem vindo a ser reconhecida academicamente, já três Prémios Nobéis da Economia foram atribuídos em 1978, 2002 e 2013 a cientistas associados à Economia Comportamental (Ávila et al., sem data).

Afinal o que é economia comportamental e qual a sua importância?

A Economia Comportamental é uma área de estudo interdisciplinar que combina os conhecimentos de economia com conhecimentos de psicologia e outras ciências sociais de forma a entender como é que as pessoas tomam, de facto, as suas decisões financeiras na prática. O princípio que os consumidores nem sempre são racionais e que nem sempre têm acesso a toda a informação necessária para tomarem decisões e maximizarem o seu bem-estar constitui uma ideia chave para as teorias desta área. Se olharmos, por exemplo, para o sentimento de medo de perder, vemos que é responsável por evitar que as pessoas tomem riscos financeiros, algo que foi demonstrado pela Teoria das Perspetivas de Tversky e Kahneman. Esta teoria sugere que as pessoas não avaliam ganhos e perdas de forma objetiva, mas sim em relação a um ponto de referência ou “estado de referência”. Isso pode levar a comportamentos diferentes em situações de ganho e de perda (Witynski, sem data).

Outro grande exemplo que podemos considerar é o facto de existirem “empurrões” (do inglês “nudge”) para manipular o consumidor a fazer determinadas escolhas em prol de outras. Olhemos para uma prateleira de supermercado, é mais provável um consumidor escolher os produtos que estão a nível dos olhos ou comprar algo que esteja perto da caixa de pagamento enquanto espera, provando que nem sempre o consumidor nem sempre é racional (Witynski, sem data).

Um outro conceito bastante importante em Economia Comportamental são as heurísticas. Este conceito refere-se à ideia de que as pessoas recorrem mais frequentemente à informação que se lembram do que propriamente a informação verdadeira, no fundo tratam-se de regras mentais que os indivíduos usam para a tomada de decisão rápida (Edart, 2020).

As teorias desta área de estudo destacam como os investidores muitas vezes tomam decisões baseadas em emoções, vieses cognitivos e heurísticas, o que pode levar a bolhas de ativos, crises financeiras e distorções de preços de longo prazo. No entanto existem limitações: uma delas é, por exemplo, a dificuldade de medir o seu impacto na tomada de decisão. Além disso, existe o risco deste conhecimento ser usado de forma abusiva organizações, com o fim de obter mais lucro (Maia & Coelho, 2024).

Conclusão

A Economia Comportamental emergiu como uma disciplina crucial que desafia as premissas tradicionais da economia, reconhecendo a influência significativa de fatores psicológicos e comportamentais nas decisões financeiras. A interseção entre economia e psicologia tem sido fundamental para entender como as pessoas realmente tomam decisões financeiras na prática. No entanto, também enfrenta alguns desafios, como a dificuldade de medir o seu impacto nas decisões e o risco de ser explorada por organizações em busca de lucro. É crucial continuar a explorar e debater essas questões para garantir que o conhecimento em Economia Comportamental seja usado de maneira ética e benéfica para a sociedade.

Referências

Ávila, F., Ávila, M., & Bianchi, A. M. (sem data). Economia Comportamental. Obtido 20 de abril de 2024, de https://www.economiacomportamental.org/o-que-e/

Edart, E. Al. (2020). Economia Comportamental: Heurísticas.

Maia, A., & Coelho, M. (2024). Finanças Comportamentais. Obtido 20 de abril de 2024, https://www.crowe.com/pt/insights/financas-comportamentais

Witynski, M. (sem data). Behavioral economics, explained. University of Chicago Office of Communications. Obtido 20 de abril de 2024, de https://news.uchicago.edu/explainer/what-is-behavioral-economics