Membro do Departamento Financeiro IBC
Uma guerra que se pensava longínqua está cada vez mais presente na economia mundial. A guerra tecnológica entre os Estados Unidos da América e a China é, sem dúvida, uma das principais ameaças à economia global atual. Entre tensões relativas a questões geopolíticas, acusações de roubo de propriedade intelectual e políticas comerciais, cria-se agora a maior batalha tecnológica entre as duas maiores economias mundiais.
Os dois maiores colossos confrontam-se na área da tecnologia nos mais variados setores como inteligência artificial, 5G, tecnologia espacial e outras tecnologias emergentes, com preocupações crescentes sob o controlo e a segurança das mesmas, o que tem conduzido a investimentos exorbitantes por parte dos dois países e à consequente tentativa pela hegemonia mundial.
A China tem investido intensamente em tecnologia nos últimos anos, com o objetivo de aumentar o investimento em I&D, tendo-se tornado, nos últimos cinco anos, a fonte de quase cinquenta por cento dos artigos científicos desenvolvidos, bem como, ser o berço de sete das dez mais importantes instituições de investigação. Os campos de maior destaque são a biologia sintética, do 5G e da nanofabricação, onde podem mesmo vir a criar um monopólio nos próximos anos.
Os Estados Unidos, por sua vez, têm lutado para manter as suas posições de liderança, especialmente em áreas como semicondutores, tecnologia de defesa e, também, inteligência artificial. No entanto, num estudo do Australian Strategic Policy Institute, financiado pelo Departamento de Estado dos EUA e divulgado há poucos dias, concluiu-se que a China está à frente das potências ocidentais, liderando em 37 das 44 áreas avaliadas. Os EUA ficam, assim, geralmente, em segundo lugar, apesar de liderarem no mundo da computação de alto desempenho, na computação quântica e em pequenos satélites e vacinas.
A verdade é que o investimento chinês tem dado bastantes frutos e é algo com que os países do ocidente, principalmente os EUA, têm de estar alerta e não preocupados, pelo menos no entretanto, uma vez que um grande número de artigos publicados não reflete ou implica capacidade de I&D.
Apesar do grande desenvolvimento tecnológico chinês, existem algumas falhas gritantes, que podem ser aproveitadas pelos Estados Unidos e outros países ocidentais. A capacidade tecnológica chinesa é criada para dez anos de forma orgânica, sendo capazes de desenvolver tecnologias muito avançadas e, simultaneamente, basearem os seus métodos em, por exemplo, tecnologias inventadas no século XX.
De forma a controlar este crescimento tecnológico por parte da China, os Estados Unidos e os seus parceiros têm vindo a tomar medidas significativas, entre as quais, a restrição das exportações de certas matérias-primas para, por exemplo, a produção de chips semicondutores.
Mais especificamente, estas regras estipulam que os fabricantes estrangeiros de semicondutores que usem tecnologia americana devem obter licenças para vender semicondutores fabricados para a Huawei. O Japão e a Holanda foram exemplos de países que concordaram com as menções por parte dos EUA, alegando que a China iria usar estes para fins militares e para o aparelho de vigilância doméstico.
Os semicondutores usados para criar chips que podemos encontrar em qualquer material eletrónico usado no dia-a-dia, é dos materiais mais importantes na atualidade. Por conseguinte, esta é uma indústria em constante crescimento, que de momento, é o centro de quinhentos mil milhões de dólares, montante este que se espera que duplique até 2030.
Em resumo, a crescente rivalidade entre Pequim e Washington DC poderá levar a uma grave crise económica a nível global. Uma vez que muitos países dependem destes dois players mundiais, os mercados internacionais, relações e acordos internacionais sairão afetados, bem como problemáticas em torno da segurança internacional e as alterações climáticas, sendo campos que requerem a cooperação de todos os países, especialmente os mais “poderosos”.