Desregulação nos mercados financeiros

Rafael Pinheiro

Aluno de Mestrado em Economics

14 de abril de 2023

"nem todos os mercados possuem uma regulação forte (...) impossibilitando uma análise fundamentada no risco e retorno, e com isso originando comportamentos irracionais no mercado"

O Processo de tomada de decisão ao realizar investimentos é um processo complexo, que contempla a dualidade risco e retorno, sendo esse um dos pilares da teoria económica clássica. No entanto, surgem momentos em que as decisões realizadas pelos tomadores de decisão são postas à prova, momentos em que essas aparentemente não compreendem essa dualidade. Com o intuito de mitigar o risco nos mercados financeiros e possibilitar uma análise completa das informações existentes, os órgãos de regulação no mercado financeiro estabelecem normas e parâmetros para os agentes e instrumentos financeiros.
Contudo, nem todos os mercados possuem uma regulação forte, o que, em muitos casos, provoca uma assimetria de informações entre os agentes económicos, impossibilitando uma análise fundamentada no risco e retorno, e com isso originando comportamentos irracionais no mercado. O mercado de cripto moedas é um exemplo disso. Por apresentar como característica a descentralização e ser um instrumento financeiro relativamente novo, não possui regulamentações e diretrizes firmes para as operações nesse mercado.
Uma das principais formas de anomalia do comportamento no mundo dos investimentos é o Efeito Manada que se caracteriza por ser uma tendência humana de copiar irracionalmente as decisões de investimento de outros agentes. Esse comportamento ocorre de maneira mais comum em mercados desregulados, uma vez que esses não são transparentes nas informações disponíveis, o que força os agentes a tomarem decisões de maneira rápida com o intuito de mitigar possíveis perdas ou aumentar ganhos. Gerando assim um ambiente de escolhas tendenciosas que copiam uma maioria comum.

Assim, alguns agentes aparentam atuar nesse mercado com o intuito de impossibilitar uma análise fundamentada e manipular esses mercados, auferindo ganhos em cima disso. O CEO do Twitter, Elon Musk, que especula no mercado de cripto tem sido constantemente acusado de manipulação de mercado com o intuído de provocar um efeito manada nos investidores.

Podemos citar o caso recente desse tipo de comportamento, por parte do CEO, em que o Twitter, que possui como logo um pássaro azul, modificou o seu mesmo para um cachorro da raça Shiba Inu, que é o ícone da cripto moeda Doge Coin. Essa simples ação que passou despercebida pela maior parte dos usuários provocou uma valorização de mais de 20% na cripto num dia. Como podemos ver não ocorreu nenhuma mudança na relação de risco retorno da cripto. Ainda assim, os investidores movimentaram-se sem essa análise.
Num momento anterior, o CEO publicou diversos tweets que indicavam grandes investimentos pela sua empresa Tesla em cripto moedas como o Bitcoin, o que provocou uma forte volatilidade na cotação dessa cripto. Apesar de tudo, os comentários não se tornaram verdades.

Esse comportamento não se limita a Elon Musk, ocorrendo de maneira generalizada nas plataformas digitais em que indivíduos que formam um grupo seleto, como grandes executivos, influenciadores e gestores, possuem um maior acesso de informações confidenciais estando, desse modo, mais bem informados do que o mercado. O grande público busca nessas figuras informações relevantes que ainda não foram divulgadas. Assim, sabendo que o público segue as redes sociais dessas pessoas influentes, um comentário numa rede social, é interpretado como um sinal ativo de compra ou venda. Começou então um movimento no mercado a partir de um simples tweet que pode acabar seguido por outras pessoas e atingir proporções notáveis – o anteriormente mencionado efeito manada.
O que destaca o caso é que nos outros mercados esse comportamento seria penalizado pelos organismos de controlo, que repreendem ações de insider trading stock. No entanto, como os mercados de cripto não possuem uma regulamentação essas punições não atingem esses agentes. Assim diversas regiões, como EUA, Brasil e a União Europeia, têm tentando construir uma regulamentação para este mercado que não se foque exclusivamente na custódia, mas também na assimetria de informação.