Ex-aluna do ISEG e aluna de Mestrado na CBS – Copenhagen Business School
Há um ano atrás despedi-me de uma empresa incrível para partir à aventura de um futuro desconhecido de 6 meses. Tudo começou no ISEG em 2020, ao fazer parte da organização do campus de um programa de estágios internacionais – INOV Contacto. Nessa semana conheci o propósito do projeto e vi todas as pessoas com uma alegria contagiante a partir ao desconhecido. Achei que seria demasiado para mim. No entanto, o entusiasmo dos que partiram contagiou-me e em 2022 assim que abriram as candidaturas, depois de dois anos de pandemia em teletrabalho, achei que poderia ser o desafio certo na altura certa!
O INOV Contacto é um projeto que desafia jovens a ter uma experiência profissional no estrangeiro, em qualquer país do mundo, desde Espanha à Argentina, ou no meu caso, até Moçambique! O destino e a empresa são apenas revelados no último dia do campus. Nesse dia, com as emoções à flor da pele, soube que ia viver noutro continente e trabalhar na ETE-Logística Moçambique.
Comecei o meu estágio em Portugal durante um mês, onde tive a oportunidade de conhecer todas as empresas do Grupo ETE, falar com os trabalhadores e compreender o seu dia-a-dia. Foi um mês empolgante numa indústria totalmente desconhecida para mim! Tudo era novo mas todos tiveram imensa paciência e disponibilidade para me ensinar e responder a todas as questões.
Uma das questões que me ficava sempre por responder era “Como vai ser quando chegar a Maputo?” mas essa, só eu conseguiria responder quando lá chegasse.
Depois de muitas despedidas e nove horas de avião, aterro em Maputo e sou recebida pelo meu Diretor. A caminho do meu novo “lar” senti um grande choque cultural ao olhar os bairros, os telhados em chapa e a pobreza a olho nu. Pela primeira vez senti a diferença de atitude devido à minha cor de pele, por ser ‘Mulungo’ (‘branco’ em changana – língua falada em Maputo). No entanto, não foi preciso muito tempo para me apaixonar pela cidade, pelo clima tropical, pelas pessoas simpáticas e sempre disponíveis, pelas danças e músicas africanas, pelos abacates e as mangas gigantes à venda em todos os cantos.
Maputo é uma cidade cheia de vida, com comerciantes e artistas em cada canto, nos semáforos, nas ruas, nas paragens de chapas (carrinhas de transporte) e nas barracas que são locais de convívio diário. As compras de casa passaram a ser feitas no mercado e algumas nas esquinas da rua, só era preciso saber regatear. No entanto, negociar nunca foi uma das minhas melhores competências por isso foi preciso tempo e as lições das minhas colegas de trabalho, para descobrir os segredos da negociação.
Sou da opinião de que os lugares que visitamos são feitos pelas pessoas que os habitam, e no meu caso, tive a sorte de ter duas colegas de trabalho que me levaram a conhecer Moçambique com os seus olhos, trataram-me como família e deram-me a conhecer as suas famílias encantadoras e os seus bairros cheios de vida! Também me ensinaram a falar a língua local ‘changana’ e a cozinhar receitas tradicionais. Elas e as suas famílias começaram a ser a minha família e estar com eles sabia a casa!
O meu estágio tinha como propósito aumentar a quota de clientes da ETE-Logística Moçambique, o que foi um desafio muito ambicioso tendo em conta a situação de estagnação do negócio e a minha falta de experiência na indústria. O objetivo inicialmente traçado para o estágio não foi atingido, no entanto, o caminho percorrido foi bem sucedido e criou uma base sólida para o futuro.
Nos primeiros dias entendi como funcionava o dia-a-dia da empresa e acompanhei as minhas colegas em todos os processos administrativos. Depois de algumas semanas entendi que o ambiente de trabalho, comparativamente com Portugal, é mais relaxado, não há pressa, as burocracias são mais demoradas, desorganizadas e muito pouco digitais. Para além disso, temos de aprender a lidar com falhas de internet ou no sistema interno, que são muito frequentes.
Olhando para trás, lembro-me das frustações e dos desafios que este estágio me trouxe, mas que ao mesmo tempo me capacitou a ser mais fléxivel, a adaptar-me a uma nova forma de trabalhar e a adquirir novas estratégias de networking.
Passado um ano, recordo toda esta experiência com uma alegria gigante, e com vontade de voltar um dia! Os restantes estagiários são agora grandes amigos meus e profissionais que me inspiram. Continuo a partilhar aventuras com as minhas colegas de trabalho com a esperança de nos voltarmos a ver em breve.
Sei que vou guardar esta experiência e todas as aprendizagens valiosas além-fronteiras, nas minhas relações profissionais e pessoais. Quando embarquei nesta aventura não sabia como iria ser, mas Maputo acabou por ensinar-me mais do que eu esperava.
Se tiveres curiosidade em ter uma aventura profissional no estrangeiro, não penses duas vezes. Arrisca!