Ouro Azul: Rumo a uma economia do mar mais sustentável
Juan Portillo
Aluno de mestrado em EGCTI
24 de março de 2023
"O Ouro Azul de Portugal é a riqueza natural do país que não pode ser desaproveitada."
O mar, o ouro azul de Portugal, é um dos maiores recursos naturais do País, com grande potencial de crescimento económico e gerador de riqueza nacional. O mar, na época dos descobrimentos, fez de Portugal um dos países mais prósperos e poderosos do mundo, quer pelo domínio da arte da navegação, quer pelas tecnologias desenvolvidas. Importantes instrumentos para a navegação como o astrolábio e inovadores navios (para a época), como as caravelas portuguesas, mostraram a capacidade da nossa pequena-grande nação e o potencial dos oceanos.
O mar tem sido ao longo dos séculos fonte de energia, de alimentos, de riqueza e de poder. Porém, nas últimas décadas as indústrias portuguesas, associadas à economia do mar, evidenciam estar em declínio quando comparadas com indústrias similares de outros países, como a Inglaterra, a Noruega, o Japão e o Brasil, os quais têm sabido aproveitar os recursos marinhos e possuem indústrias que garantem forte crescimento económico. Contudo, nem sempre de forma sustentável. Os recursos marinhos em Portugal são dos mais vastos e importantes dos Estados-Membros da União Europeia. A Economia Azul, a economia do mar, está no radar das estratégias portuguesa e europeia para o desenvolvimento sustentável. Refira-se, por exemplo, a Nova Estratégia para uma Economia Azul mais Sustentável a qual é fundamental para alcançar os objetivos do Plano de Recuperação da Europa e do Pacto Ecológico Europeu (PEE). Sendo o objetivo do PEE alcançar uma “redução das emissões líquidas de gases com efeito de estufa de, pelo menos, 55 % até 2030” (em comparação aos níveis de 1990), com a visão de convertirmos no primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050. Neste sentido, para conseguir os objetivos da agenda europeia, é imprescindível desenvolver a nova economia azul, na qual é incontornável o recurso às energias renováveis marinhas.
A energia eólica offshore e a energia das ondas são exemplos paradigmáticos dos recursos energéticos inesgotáveis dos oceanos. As novas tecnologias de produção de energia funcionam como uma “ficha elétrica” no meio do mar, às quais podem ser conectados inúmeros sistemas, como, por exemplo: os da aquacultura, para prover alimentos; os de dessalinização para fornecer água doce às comunidades; e, os de produção de hidrogénio ‘verde’ para armazenar energia e prover combustível aos navios. Servem também de fontes de energia elétrica para o apoio de outras atividades marítimas industriais, desportivas e turísticas. Neste domínio, os engenheiros e investigadores portugueses voltam a ter relevância internacional, com os seus contributos nos sistemas de energia eólica flutuante offshore e de energia das ondas. Atualmente, dois projetos pilotos, para demonstrar o uso e a funcionalidade, destas tecnologias estão a ser desenvolvidos em Portugal . Um deles já está no mar e é o primeiro parque eólico flutuante em operação do mundo, o projeto Windfloat Atlantic, em parceria com a EDP, o qual já demostrou ser resistente às tormentas do Atlântico. Entrou em operação no segundo semestre de 2020 a 20 km da costa de Viana do Castelo e num ano já tinha produzido 75 GWh, o equivalente à energia necessária para abastecer energia elétrica a mais de 30 mil lares portugueses. O projeto envolve três plataformas flutuantes com turbinas eólicas da marca Vestas de 8,4 MW cada uma. A Vestas tem escritórios no norte de Portugal, onde desenham-se alguns componentes das turbinas eólicas da empresa para o mercado global.
Outro projeto piloto que marca o início de uma nova era, não só para Portugal, mas para a Europa, é o EU-SCORES, em parceria com a WavEC Offshore Renewables, EDP Labelec e INESC TEC, que busca estudar a exploração conjunta de sistemas de energia eólica, energia solar e energia das ondas para obter maior estabilidade na produção de energia elétrica, através da coexistência destes sistemas. Este projeto conta com o apoio da Comissão Europeia e tem um financiamento total de 45 milhões de euros para apoiar dois projetos, um a desenvolver nas águas portuguesas e outro na Bélgica até 2025. Em Portugal um parque de energia das ondas coabitará com um de energia eólica para avaliar os benefícios da cocriação de valor acrescentado.
Outro projeto, com selo português e liderado pelo Instituto Superior Técnico, é o WaveBUOY, financiado pela Fundação de Ciência e Tecnologia. A primeira fase envolveu o desenho e posta no mar no arquipélago dos Açores, de uma boia oceanográfica que converte a energia das ondas em energia elétrica para fornecer eletricidade a um conjunto de sensores. O conhecimento adquirido e a experiência, neste e outros projetos de energias renováveis marinhas, está a fazer de Portugal um dos países pioneiros nesta área.
Recentemente foram anunciadas pelo Governo da República as cinco zonas preliminares definidas para o desenvolvimento de projetos de energias renováveis offshore, pensada maioritariamente para a exploração de energia eólica no mar, com uma capacidade conjunta de perto de 10 GW, segundo fontes oficiais do governo português. A informação sobre estas zonas ao largo de Viana do Castelo, Figueira da Foz, Leixões, Ericeira-Cascais e Sines se encontra em consulta pública até 10 de março, para recolher sugestões ou contributos da proposta preliminar do grupo de trabalho criado para o efeito. Porém, ainda deve ser definida a estratégia detalhada dos leilões sobre estas zonas.
Portugal está a dar passos significativos na área das energias renováveis offshore que podem mudar o paradigma de desenvolvimento do país. O acesso aos recursos do mar e a aposta no sistema científico e de inovação nacional é crucial para o desenvolvimento de conhecimento especializado nestas tecnologias e para a sua comercialização. Assim, será possível diminuir a dependência de Portugal e da Europa dos combustíveis fósseis. Uma necessidade cada vez mais visível, sobretudo nestes tempos de guerra.
O Ouro Azul de Portugal é a riqueza natural do país que não pode ser desaproveitada.