A Iliteracia Financeira em Portugal

Filipa Mafalda

1º ano Licenciatura em Economia

Membro do Departamento de Mercados Financeiros e Poupança | YES

20 de maio de 2022

Portugal ocupava o último lugar do ranking de literacia financeira da zona euro

O Departamento de Mercados Financeiros e Poupança (MFP) da associação ISEG YES tem como um dos objetivos principais dar a conhecer e formular atividades que possibilitem um maior conhecimento desta área. Assim, de uma forma simplista, os mercados financeiros correspondem ao local onde ocorre a compra e venda de ativos, como títulos, moedas, ações, entre outros bens financeiros. Destes, os que mais ouvimos falar e que têm a atenção da maioria no quotidiano são talvez o mercado de capitais e o mercado de ações.

No entanto, nos dias que correm, onde crises e instabilidade económica tornaram-se temas recorrentes, o entendimento destes mercados e o conhecimento acerca das diversas formas de poupança leva a que a literacia financeira assuma um papel de grande destaque na vida de todos. Esta apresenta-se como fulcral para uma vida económica e financeiramente equilibrada, com conhecimentos e margem de manobra para a poupança e para o investimento de capitais, de modo, por exemplo, a não ser somente dependentes de uma única fonte de rendimento.

A literacia financeira está relacionada com a forma como encaramos as nossas finanças pessoais. Esta não está somente ligada ao controlo do consumo e de gastos, mas também contribui fortemente para uma relação mais saudável com o dinheiro e possibilita uma gestão mais rentável do mesmo. Um bom conhecimento nesta área apresenta benefícios como uma melhor qualidade de consumo, isto é, as despesas desnecessárias deixam de ser uma realidade; maior equilíbrio das finanças pessoais, onde se destaca um maior controlo com os gastos; melhor planeamento de longo prazo, que permite realizar investimentos com menor risco e possibilita obtenção de outras fontes de rendimento através da aplicação de capitais nos mercados financeiros.

De acordo com um artigo publicado pelo Banco Central Europeu (BCE) em janeiro de 2022, designado “EBC communication with the wider public”, Portugal ocupava o último lugar do ranking de literacia financeira da zona euro.

O gráfico em questão mostra que apenas 25% da população portuguesa responde de forma correta a pelo menos três das cinco questões feitas pelo inquérito estatístico do BCE. Neste estudo, os portugueses encontravam-se no último lugar do ranking entre os 19 países que constituem a zona euro, um estudo onde as perguntas abordavam temas como a diversificação do risco, a inflação e taxas de juro composto. Os especialistas referem que através das várias análises realizadas uma das barreiras ao interesse pela informação financeira é a forma como os bancos comunicam com o público em geral, isto é, a forma como produtos e ativos financeiros são vendidos a pessoas não especializadas e com falta de conhecimento na matéria.

Estas apontam que uma das razões para a iliteracia financeira passa pela dificuldade de compreensão e também pelo facto de que a ideia transmitida desta temática é um assunto que apenas diz respeito a alguns, do mesmo modo que apenas um certo grupo restrito de pessoas pode perceber. Apesar deste já ser um problema conhecido, e os bancos cada vez mais trabalharem para transmitir uma mensagem mais simples e de fácil absorção, a verdade é que a iliteracia financeira continua a ser uma realidade, principalmente na sociedade portuguesa como demonstra o gráfico publicado pelo BCE no respetivo artigo.

Neste sentido, uma das consequências que advém da iliteracia financeira passa por um aumento das despesas no nosso quotidiano, pela acumulação de dívidas e posteriormente pelo pagamento de taxas de juro mais elevadas nos empréstimos realizados, por um menor grau de poupança, entre outros aspetos. Assim, a grande questão que podemos colocar é como combater este fenómeno que afeta, como já vimos, não só países subdesenvolvidos e pessoas de estratos sociais mais baixos, mas também os países desenvolvidos e uma grande parte da classe média. Uma das formas de mitigar o fenómeno pode passar, por exemplo, pela criação de empresas/sociedades de cariz social e independentes de quaisquer bancos que funcionariam como intermediários na compra e venda de ativos financeiros ou nos pedidos de créditos, onde o indivíduo seria acompanhado e aconselhado durante todo o processo por alguém especializado na Financial literacy of the general public by euro area Member State área de forma a ir obtendo mais conhecimentos e maior autonomia financeira. Muitos irão argumentar que esta ferramenta iria entrar em choque com o papel dos gestores bancários, mas a verdade é que por vezes os clientes são levados a comprar ativos financeiros que não conhecem, pois, um dos objetivos do banco é vender os seus produtos, independentemente do risco associado.

Assim, é de destacar a importância ao combate à iliteracia financeira
nomeadamente em Portugal, pois no contexto atual que vivemos é difícil para as famílias portuguesas enfrentar um novo ciclo de crises económicas e é fulcral implementar hábitos de poupança e dar a possibilidade aos portugueses de diversificarem as suas fontes de rendimento.

Bibliografia:

Gardt, M., Angino, S., Mee, S. e Glöckler G. (2022). ECB communication with the wider
public. Disponível em https://www.ecb.europa.eu/pub/economic-bulletin/articles/2022/html/
ecb.ebart202108_02~5c1e5a116d.en.html [Consultado em 26/04/2022]