Problemas de saúde mental relacionados com o trabalho têm, como seria de esperar, sérias consequências na produtividade das organizações e na qualidade do output das mesmas. Burnout provoca mudanças comportamentais que afetam diretamente a performance do trabalhador e resultam muitas vezes em absentismo, diminuição da produtividade, falta de comprometimento, baixa motivação e insatisfação organizacional, sentimentos de negativismo e desprezo em relação ao trabalho e redução da saúde física e mental necessária para executar as tarefas diárias. Por estas razões, o burnout não deve ser visto apenas como um estado psicológico individual, mas também como um fenómeno coletivo que provoca danos a nível organizacional, económico e sociocultural.
É crucial que as empresas reconheçam estes perigos e que adotem uma abordagem séria em relação às consequências que representam para a saúde e bem-estar dos trabalhadores. Só depois será possível atuar de forma eficaz no combate à doença, criando condições que permitam reduzir os riscos psicossociais no local de trabalho e manter níveis sustentáveis de comprometimento e satisfação. Felizmente, para muitas empresas a saúde mental dos seus colaboradores já é uma prioridade clara, mas, em certos contextos, as atmosferas extremamente competitivas, o excesso de carga de trabalho e a complexidade das tarefas subsequentes da natureza da atividade profissional, dificultam uma boa gestão emocional, até para os próprios indivíduos. A verdade é que o trabalhador é confrontado com cada vez maiores exigências cognitivas, físicas e emocionais em ambientes de constante mudança e isso exige um apoio mais aprofundado por parte das empresas.
Como já foi mencionado, burnout resulta de stress crónico mal gerido e, para evitar que ocorra, é essencial que o trabalhador possa descansar apropriadamente sem ser incomodado pelos seus compromissos laborais. Porém, com o aumento do trabalho remoto por conta da pandemia covid-19, os deveres de casa rapidamente se misturaram com as obrigações profissionais e a linha que separa o trabalho e o lazer deteriorou-se. A boa notícia é que no mês de novembro o parlamento português aprovou uma lei que proíbe empresas de entrarem em contacto com os seus trabalhadores após o expediente e, para além de Portugal, vários países começaram a implementar medidas inovadoras para garantir que a saúde mental dos funcionários fosse tomada em consideração no local de trabalho – como é o caso de alguns países nórdicos que introduziram a semana de trabalho de quatro dias para dar resposta aos níveis alarmantes de stress e desgaste por parte dos funcionários.
É importante relembrar que o nosso estado emocional também depende de nós. É fácil ignorar sintomas de burnout quando estamos extremamente focados naquilo que temos para fazer. De repente, os objetivos tornam-se mais importantes que a nossa saúde e bem-estar, mas quanto mais trabalhamos acima do nosso limite pior é a nossa produtividade e mais rapidamente começamos a perder as capacidades a que estávamos habituados. Reconhecer quando devemos parar para fazer uma pausa, saber pedir ajuda e comunicar abertamente sobre como nos estamos a sentir são skills de inteligência emocional, que nos permitem regular o nosso estado emocional e contribuem para a eficiência do nosso trabalho e para uma melhor qualidade de vida a longo prazo.
[2] Lapa TA, Madeira FM, Viana JS, Pinto-Gouveia J. Burnout syndrome and wellbeing in anesthesiologists: the importance of emotion regulation strategies. Minerva Anestesiol 2017;83:191-9. DOI: 10.23736/S0375-9393.16.11379-3
[3] https://smallbusinessprices.co.uk/european-employee-burnout/
[4] https://www.deco.proteste.pt/saude/doencas/noticias/burnout-um-terco-dos-portugueses-em-risco
[6] In H. Pereira, S. Monteiro, G. Esgalhado, & I. Leal (Orgs.). 13º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde – Actas (pp. 399-407). Lisboa: Edições ISPA
[7] Leitão, João, Dina Pereira, and Ângela Gonçalves. 2021. “Quality of Work Life and Contribution to Productivity: Assessing the Moderator Effects of Burnout Syndrome” International Journal of Environmental Research and Public Health 18, no. 5: 2425. https://doi.org/10.3390/ijerph18052425