Segundo Scholz (2011), o processo transdisciplinar cumpre os seguintes requisitos: foca problemas socialmente relevantes; permite aprendizagem mútua entre investigadores de diferentes disciplinas, assim como entre atores de fora da academia; e visa a criação de conhecimento orientado para a solução, e socialmente robusto e transferível para a prática, podendo mesmo servir funções diferentes, incluindo capacitação e legitimação (ou seja, corresponsabilização).
Este trabalho, segundo Lang et al. (2012), deve acontecer em 3 fases: primeiro, enquadram-se de forma colaborativa o problema e a equipa de projeto; segundo, coproduzem-se conhecimentos e soluções transferíveis; e terceiro, (re)integram-se e aplicam-se os conhecimentos produzidos na ciência e na prática social.
Este processo, necessário à ciência da sustentabilidade, vem ao encontro do processo de participação e democratização, como resposta à ausência da voz dos cidadãos e valores ambientais nos processos de tomada de decisões (Eckersley 2004), criando condições para o envolvimento das pessoas nas decisões que afetam as suas vidas e o seu meio.
Em síntese, o pressuposto fundamental e final da ciência da sustentabilidade é que a compreensão dos sistemas em análise, incluindo os processos sociais e biofísicos passados e presentes, usos ambientais locais, forças políticas e económicas, preocupações das partes interessadas e respostas previstas, etc. permita a redução da vulnerabilidade dos sistemas a longo prazo (Ostrom et al. 2007; Matson 2009). A forma de realizar o potencial da ciência da sustentabilidade é esta centrar-se nas soluções, criar contextos de investigação colaborativos transdisciplinares e reduzir as barreiras institucionais.
Assim, a investigação transformacional para a sustentabilidade prevê um papel diferente para os cientistas; estes não analisam ”apenas” questões de sustentabilidade, mas, em vez disso, são chamados a imergir nos processos de decisão que estão incrustados nos processos de transição da sociedade, co-construindo conhecimento científico robusto e socialmente eficaz (Wiek 2007; Scholz 2011; Talwar et al. 2011; Lang et al. 2012).
O que é novo nesta ciência da sustentabilidade, é afirmar que, dadas as evidências da complexidade e dos necessários consensos, o caminho para a sustentabilidade dos sistemas precisa de uma ciência, de um conhecimento integrador e holístico, em que os parceiros de investigação-ação se coresponsabilizem pelos modos e pelas soluções. Em que as ciências exatas e as CSH completam-se e, no todo, a investigação dos sistemas sociedade-ambiente surge como em zona de fronteira, cooperando com a política e com as comunidades para que os problemas possam ser minimizados e alguns resolvidos em tempo útil.
É uma ciência que paulatinamente irá cimentar as condições conceptuais bem como os meios para alcançar “o seu e o de todos” conhecimento científico, justificando o seu reconhecimento institucional a nível internacional e académico.
O presente texto é uma parte do texto original de: Dias Sardinha, I. A Valorização das Ciências Sociais e Humanas e o seu Vínculo com a Ciência da Sustentabilidade. 2018. In Utopia, Anarquia e Sociedade – Escritos em Homenagem a José Maria Carvalho Ferreira, SOCIUS-CSG, ISEG, Universidade de Lisboa, Almedina. Coordenadores: Rita Raposo, Maria Isabel Mendes de Almeida, Rafael Marques, Helena Mateus Jerónimo, Idalina Dias Sardinha, José Carlos Lopes, Manuel Coelho, Fundação Económicas, II serie, nº 30, pp. 833-844. (ISBN 978-972-40-7324-8)
https://www.almedina.net/utopia-anarquia-e-sociedade-escritos-em-homenagem-a-jos-maria-carvalho-ferreira-1563804226.html
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