Membro do IBC, Licenciada em Gestão no ISEG e aluna do Mestrado em Gestão de Informação com especialização em Gestão do Conhecimento e Business Intelligence na Nova Information Management School
O crescimento do mundo digital ao longo dos anos tornou o streaming na nova tendência a nível de entretenimento e, por agora, não mostra sinais de abrandamento.
Em todo o mundo cada vez mais pessoas optam pelas diversas plataformas de streaming ao invés da TV tradicional. Se o conteúdo televisivo já tinha impacto nos gostos das pessoas, então o streaming levou esta influência para um novo nível. Desde livros a moda, passando por comida e joias, atualmente o streaming tem uma influência notável e a atual pandemia só veio alavancar este efeito, duplicando o seu consumo.(1)
Esta duplicação veio confirmar a mudança de preferência dos consumidores que optam pelo streaming por três razões principais: são mais convenientes (podendo ser utilizados em múltiplos dispositivos ao mesmo tempo); são mais acessíveis e; mais personalizáveis que a TV tradicional, pois através de algoritmos de IA, as plataformas de streaming ajustam a sua oferta com base nas preferência e gostos do utilizador. (2)
Esta mudança nos gostos dos consumidores tem tido uma expressão tal que tem impulsionado o fenómeno de “cord-cutting”, existindo cada vez mais pessoas a trocar definitivamente a TV por cabo pelas plataformas de streaming. (3)
Com a população mundial em isolamento, plataformas como a Netlfix tornaram-se uma constante e um hábito que muitos não tinham, o que permitiu a estes serviços ter uma audiência mais variada e alcançar segmentos com ainda pouca expressão. Foi durante o “lockdown” que se deram alguns dos maiores “efeitos Netflix” até hoje, como por exemplo os das séries de “Queen’s Gambit “e Brigerton”. Em 2020, a série “Queen’s Gambit” causou o renascimento do xadrez, um desporto quase esquecido até então. O programa da Netflix causou um aumento de 125% na procura de tabuleiros de xadrez e a pesquisa do Google de “como jogar xadrez” atingiu o seu cúmulo. (4)(5)
Por outro lado, e apesar de ser uma série de época, “Bridgerton” gerou um pico na procura de bordados, tops de renda, corpetes e joias da era regencial.(6)(7) Contudo, o “efeito Netflix” não ficou por aqui, e passados 13 anos do lançamento dos romances que inspiraram a série, estes tornaram-se bestsellers. (8)
Todavia, este efeito já tinha uma expressão considerável anteriormente como se pode ver pela série “Stranger Things” que tocou no marketing de nostalgia e ressuscitou a marca de waffles congeladas – “Eggos”, que se encontrava perto da falência. (9)
Adicionalmente, o impacto do streaming teve uma grande expressão na indústria do entretenimento e digital, que se viu forçada a reinventar aspetos que foram constantes durante décadas. Este impacto foi notável no que toca a acessibilidade das televisões e comandos que já vêm com atalhos incorporados para as mais famosas plataformas de streaming. Contudo, este não foi o único impacto na indústria, pois canais televisivos de renome estão a tomar uma abordagem mais digital na sua oferta, começando a ter serviços de streaming complementares e até mesmo que substituem o seu canal tradicional. Os exemplos desta mudança não param de aumentar, desde o canal HBO que começou o serviço HBO max até à RTP play e a Opto (Sic).
Mas o que significa tudo isto? É um sinal claro de que as empresas estão atentas e têm consciência do que os clientes querem e gostam e que plataformas como a Netflix têm uma influência mais significativa do que aquilo que se pensa. Ainda assim, uma questão permanece: o que causa isto tudo?
Não há uma teoria que explique o “Efeito Netflix”, mas sim uma combinação de teorias. Uma destas é a “Teoria da Identidade Social”, em que Henri Tajfel propõe que pertencer a um grupo é importante para dar aos indivíduos uma sensação de identidade social e autoestima. Outra hipótese que justifica a dimensão do efeito é a “Endorsement theory” que aborda a imagem que os consumidores têm de si e a sua consequente identificação com celebridades ou personagens.
Muitas vezes o conteúdo das plataformas de streaming oferecem essa sensação de grupo e de pertença devido à quantidade de pessoas com aquele gosto comum e, ao mesmo tempo dão um exemplo que os consumidores querem seguir e imitar.
No entanto, esta influência pode ter consequências negativas como o sedentarismo, depressão, falta de motivação social e manifestou-se ainda de forma mais grave devido à série “13 Reasons Why”. No mês após o seu lançamento a taxa de suicídio aumentou 28.9% entre americanos com 10-17 anos. (12)
[1] http://1. https://www.nielsen.com/us/en/insights/article/2020/streaming-video-aug-2020-milestone/
[2]https://beonair.com/video-streaming-skyrocketing-in-popularity
[3]https://www.emarketer.com/content/pay-tv-suffers-historic-cord-cutting
[8] https://www.indiewire.com/shop/bridgerton-series-julia-quinn-sales-netflix-1234610254/
[9] https://www.businessinsider.com/netflixs-stranger-things-boosted-eggo-waffle-sales-2018-2
[10] https://www.simplypsychology.org/social-identity-theory.html