Aluno de Economia; Membro do ISEG Business Club
Aluno de Gestão; Membro do ISEG Business Club
A Suécia ficou conhecida pela forma como enfrentou a pandemia de COVID-19. Esta estratégia tão diferente deu direito a várias opiniões. Hoje, cerca de um ano depois, esta discussão não perdeu terreno.
Em vez de declarar um lockdown, a Suécia adotou uma abordagem holística, pelo que os suecos mudaram os seus comportamentos, mas não de uma forma tão profunda como os outros países, com o objetivo de apostar na imunidade de grupo. Com este artigo pretendemos expor as perspetivas e os dados necessários para se formar uma opinião imparcial e objetiva.
O sistema sueco construiu-se à base da confiança. A principal premissa consistia no aconselhamento da conservação da distância de segurança, no entanto a obrigatoriedade da utilização de máscara nunca fora legislada. É importante realçar que a adoção de medidas mais severas foi impossibilitada pela legislação sueca.
É ainda de sublinhar que avaliar a mortalidade e onde esta incidiu é essencial no que toca ao estudo do impacto de uma doença. A Suécia registou uma maior taxa de mortalidade no início da pandemia que afetou o grupo de maior risco (grupo de grandes idosos, ≥75 anos). A curva da mortalidade terá diminuído, podendo isso ter ajudado para o facto de a homogeneidade da população restante ser caracterizada pela do grupo de menor risco.
É também importante ter em consideração que o sistema de saúde sueco é um sistema mais personalizado e preparado que o português. Assim, o impacto de doenças como esta acaba por ser aliviado devido à qualidade dos sistemas de saúde públicos. Apesar desta qualidade dos sistemas da saúde, verificaram-se também certos contratempos nos quais a Suécia registou problemas ao nível da sobrelotação dos hospitais comuns aos outros países.
Em termos económicos, não são precisos grandes estudos e investigações para se perceber que estamos a atravessar uma grave crise económica. No entanto, importa tentar perceber se o declínio da atividade económica nos vários países adveio das medidas tomadas pelos mesmos.
Através do uso dos gastos agregados dos consumidores como “instrumento dinamizador” da atividade económica, constatou-se que a Suécia registou uma redução de gastos agregados dos consumidores (a partir de 11 de março) comparado com o ano de 2019 para períodos homólogos. Contudo, essa redução é significativamente inferior quando comparada com os outros países europeus.
As medidas governamentais podem contribuir para um desacelerar da atividade económica. Contudo, estas medidas não são a principal causa do abrandamento económico, uma vez que a Suécia, tendo sido menos restritiva na implementação das suas medidas, permitiu que o declínio da sua atividade fosse menor em contraste com outros países, por exemplo Portugal.
De um modo geral, as medidas adotadas demonstraram impactos significativos a vários níveis, no entanto, o vírus, por si só, forçou alguns desses impactos, na medida em que fez com que as pessoas reduzissem o consumo e o trabalho porque internalizam as externalidades das suas próprias atividades na saúde de outras, ou por riscos à sua própria saúde.
Pode afirmar-se que a abordagem sueca originou algumas controvérsias, uma vez que as opiniões de vários especialistas, jornalistas e cidadãos suecos se dividiram entre o otimismo e o pessimismo. Os “otimistas” afirmam que o sucesso dessas medidas foi consequência de fatores como: maiores índices de confiança no sistema e autoridades suecas, ou seja, a cultura escandinava apresenta um papel determinante; decisões tomadas pelas autoridades de saúde e epidemiologistas e não por autoridades políticas; e a cultura económica sueca assente na expressão “Não dá para fazer vida, mas dá para manter”.
Stefan Hanson, um especialista sueco em doenças infeciosas, com uma visão mais pessimista afirmou que a imunidade de grupo exigiria que 60% a 80% da população se tornasse imune ao vírus. Todavia, os dados mostraram que apenas 7,3% dos habitantes de Estocolmo, “produziram” anticorpos para o vírus, o que significa que a busca pela imunidade, dado o aumento da taxa de mortalidade, foi uma “dangerous approach”.
De forma a entendermos como foi passar por esta situação, falámos com o Gonçalo, aluno do ISEG que fez Erasmus na Suécia no primeiro semestre. Com esta conversa conseguimos perceber um pouco mais sobre a mentalidade dos suecos e de que forma esta pode ter sido importante para a estratégia adotada para combater os efeitos do vírus. A “mentalidade” sueca caracteriza-se por uma maior independência e responsabilidade. “Independência” porque, na grande maioria, as pessoas restringem os seus contactos a um grupo mais fechado. “Responsabilidade”, pois o simples aconselhamento de distanciamento físico nas ruas foi mais que suficiente para reduzir o número de movimentos nas vias públicas.