A Suécia e a sua resposta à Pandemia

Diogo Norte

Aluno de Economia; Membro do ISEG Business Club

Frederico Vale Pereira

Aluno de Gestão; Membro do ISEG Business Club

09 de abril de 2021

A Suécia ficou conhecida pela forma como enfrentou a pandemia de COVID-19. Esta estratégia tão diferente deu direito a várias opiniões. Hoje, cerca de um ano depois, esta discussão não perdeu terreno.

"Esta estratégia tão diferente deu direito a várias opiniões. Hoje, cerca de um ano depois, esta discussão não perdeu terreno."

Em vez de declarar um lockdown, a Suécia adotou uma abordagem holística, pelo que os suecos mudaram os seus comportamentos, mas não de uma forma tão profunda como os outros países, com o objetivo de apostar na imunidade de grupo. Com este artigo pretendemos expor as perspetivas e os dados necessários para se formar uma opinião imparcial e objetiva.

O sistema sueco construiu-se à base da confiança. A principal premissa consistia no aconselhamento da conservação da distância de segurança, no entanto a obrigatoriedade da utilização de máscara nunca fora legislada. É importante realçar que a adoção de medidas mais severas foi impossibilitada pela legislação sueca.

"Devido às poucas restrições, na primeira vaga a Suécia registou o dobro dos novos casos semanais em relação a Portugal."

Passado um ano de restrições podemos fazer uma análise mais correta do método sueco e compará-lo aos de outros países, como Portugal. Naturalmente, devido às poucas restrições, na primeira vaga a Suécia registou o dobro dos novos casos semanais em relação a Portugal, tendo tido o seu pico a meados de junho. Com a entrada do verão, os casos diminuíram, tendo Portugal tido registos ligeiramente superiores. Entrou o regresso às aulas e com ele um acréscimo no número de casos em ambos os países. Começou assim a segunda vaga, onde Portugal registou no geral quase o dobro de infeções. Na Suécia assistiu-se a um aumento de casos entre novembro de 2020 e janeiro de 2021 e em Portugal, na época pós-natal, a 3ª vaga sentiu-se com grande incidência. Hoje, a Suécia regista um total de 850 mil casos e Portugal regista um total de 826 mil.

É ainda de sublinhar que avaliar a mortalidade e onde esta incidiu é essencial no que toca ao estudo do impacto de uma doença. A Suécia registou uma maior taxa de mortalidade no início da pandemia que afetou o grupo de maior risco (grupo de grandes idosos, ≥75 anos). A curva da mortalidade terá diminuído, podendo isso ter ajudado para o facto de a homogeneidade da população restante ser caracterizada pela do grupo de menor risco.

É também importante ter em consideração que o sistema de saúde sueco é um sistema mais personalizado e preparado que o português. Assim, o impacto de doenças como esta acaba por ser aliviado devido à qualidade dos sistemas de saúde públicos. Apesar desta qualidade dos sistemas da saúde, verificaram-se também certos contratempos nos quais a Suécia registou problemas ao nível da sobrelotação dos hospitais comuns aos outros países.

"É importante também ter em consideração que o sistema de saúde sueco é um sistema mais personalizado e preparado que o português."

"As medidas governamentais podem contribuir para um desacelerar da atividade económica. Contudo, estas medidas não são a principal causa do abrandamento económico"

Em termos económicos, não são precisos grandes estudos e investigações para se perceber que estamos a atravessar uma grave crise económica. No entanto, importa tentar perceber se o declínio da atividade económica nos vários países adveio das medidas tomadas pelos mesmos.

Através do uso dos gastos agregados dos consumidores como “instrumento dinamizador” da atividade económica, constatou-se que a Suécia registou uma redução de gastos agregados dos consumidores (a partir de 11 de março) comparado com o ano de 2019 para períodos homólogos. Contudo, essa redução é significativamente inferior quando comparada com os outros países europeus.

As medidas governamentais podem contribuir para um desacelerar da atividade económica. Contudo, estas medidas não são a principal causa do abrandamento económico, uma vez que a Suécia, tendo sido menos restritiva na implementação das suas medidas, permitiu que o declínio da sua atividade fosse menor em contraste com outros países, por exemplo Portugal.

De um modo geral, as medidas adotadas demonstraram impactos significativos a vários níveis, no entanto, o vírus, por si só, forçou alguns desses impactos, na medida em que fez com que as pessoas reduzissem o consumo e o trabalho porque internalizam as externalidades das suas próprias atividades na saúde de outras, ou por riscos à sua própria saúde.

Pode afirmar-se que a abordagem sueca originou algumas controvérsias, uma vez que as opiniões de vários especialistas, jornalistas e cidadãos suecos se dividiram entre o otimismo e o pessimismo. Os “otimistas” afirmam que o sucesso dessas medidas foi consequência de fatores como: maiores índices de confiança no sistema e autoridades suecas, ou seja, a cultura escandinava apresenta um papel determinante; decisões tomadas pelas autoridades de saúde e epidemiologistas e não por autoridades políticas; e a cultura económica sueca assente na expressão “Não dá para fazer vida, mas dá para manter”.

Stefan Hanson, um especialista sueco em doenças infeciosas, com uma visão mais pessimista afirmou que a imunidade de grupo exigiria que 60% a 80% da população se tornasse imune ao vírus. Todavia, os dados mostraram que apenas 7,3% dos habitantes de Estocolmo, “produziram” anticorpos para o vírus, o que significa que a busca pela imunidade, dado o aumento da taxa de mortalidade, foi uma “dangerous approach”.

De forma a entendermos como foi passar por esta situação, falámos com o Gonçalo, aluno do ISEG que fez Erasmus na Suécia no primeiro semestre. Com esta conversa conseguimos perceber um pouco mais sobre a mentalidade dos suecos e de que forma esta pode ter sido importante para a estratégia adotada para combater os efeitos do vírus. A “mentalidade” sueca caracteriza-se por uma maior independência e responsabilidade. “Independência” porque, na grande maioria, as pessoas restringem os seus contactos a um grupo mais fechado. “Responsabilidade”, pois o simples aconselhamento de distanciamento físico nas ruas foi mais que suficiente para reduzir o número de movimentos nas vias públicas.

"A “mentalidade” sueca caracteriza-se por uma maior independência e responsabilidade."

"A estratégia adotada para combater a pandemia foi moldada pelas características particulares da cultura do país."

Podemos concluir que, até ao dia de hoje, a pandemia se fez sentir um pouco mais em Portugal do que na Suécia. No início da pandemia, as políticas que as autoridades governamentais suecas adotaram foram caracterizadas por muitos como um trade-off entre salvar vidas ou salvar a economia. Não obstante, com base num estudo mais profundo sobre a sociedade sueca compreendemos que a estratégia adotada para combater a pandemia foi moldada pelas características particulares da cultura do país.