Desde os anos 1950 que o PIB mundial tem crescido exponencialmente dado origem ao sistema económico que conhecemos hoje, e que assenta num crescimento do consumo que promove o crescimento do volume de vendas das empresas, e o crescimento do PIB. Acreditou-se que a economia de mercado iria conseguir acautelar a potencial limitação de recursos, ao assumir-se que, quando os recursos começam a escassear, o seu preço começa a aumentar, o preço de venda dos bens aumenta, e a procura acaba por baixar, levando assim ao equilíbrio do dito recurso. Mas na realidade nada disto acontece. A economia de mercado que temos hoje, focada no curto prazo, não incorpora nas decisões do presente o impacte que estas têm no futuro. E portanto, estes equilíbrios não acontecem.
Este crescimento originou também outros impactes ao nível do sistema terrestre. Impactes estes que nós, economistas e gestores, ignorámos. Tivemos os cientistas que nos alertaram para a necessidade de as empresas minimizarem os seus impactes ambientais. Mas, como era algo “lá longe”, fomos ignorando. A consequência hoje é evidente tendo o crescimento exponencial do PIB dado origem ao crescimento exponencial de algumas variáveis do sistema terrestre, como o CO2, o metano, a perda de biodiversidade, entre outras. Quando em desequilíbrio, e quando todas elas estão em desequilíbrio, estas variáveis podem levar a catástrofes ambientais não previsíveis, levam sem dúvida às alterações climáticas, que têm obviamente um impacte financeiro nas empresas e nas pessoas.
Mais de 90% dos cientistas afirma que, se o modelo económico existente não mudar, no final do século XXI a temperatura mundial pode aumentar 4,8ºC. Isso significa que em Portugal a temperatura média pode aumentar pelo menos 8ºC, e mais de metade dos dias na zona de Lisboa terão mais de 30 ºC. Imagine-se os impactes que este tipo de temperatura poderá ter na agricultura, na cadeia alimentar, na saúde, nos incêndios, nas tempestades, etc, em Portugal.
Para evitar este aumento de temperatura mundial que irá trazer consequências que os próprios cientistas têm dificuldade em antecipar, o mundo acordou em unir forçar e agir em conjunto através do Acordo de Paris que foi assinado por mais de 100 países em 2015. Neste acordo os países concordam em desenvolver esforços de forma a que a temperatura do planeta não aumente mais do que 2ºC, idealmente 1,5ºC até ao final do século. Para que isto aconteça, é necessário que os países atinjam a neutralidade carbónica durante a segunda metade do século. Atingir a neutralidade carbónica significa por um lado baixar as emissões de gases com efeitos de estufa, e aumentar o sequestro de carbono através da reflorestação, agricultura e outras formas. Portugal foi o primeiro país a nível mundial a assumir o compromisso da neutralidade carbónica para 2050. Hoje em dia também a União Europeia tem esse objetivo: ser uma zona neutra em carbono em 2050.
É neste contexto que surge o conceito de descarbonização da economia. Uma economia que seja capaz de criar emprego e bem-estar, emitindo menos emissões de gases com efeitos de estufa, em particular o CO2. Há quem veja este desafio como um custo. Mas deve ser visto como um investimento produtivo. Para que as economias sejam descarbonizadas é necessário tecnologia mais limpa na indústria, mobilidade menos poluente, materiais de construção mais eficientes a nível energético, uma aposta nas energias renováveis e na eletrificação das economias.
Todos estes desafios necessitam obviamente de tecnologia, investimento, políticas adequadas e vontade. A tecnologia existe, o dinheiro também, as políticas estão a ser criadas – veja-se o Green Deal da União Europeia em que afirma que a economia verde é a nova estratégia de crescimento europeu – mas ainda falta conhecimento e vontade.
Sem conhecimento não há vontade. É por isso essencial que todos os futuros economistas e gestores saibam que a economia do século XXI é verde, circular e respeitadora dos ecossistemas. É necessário compreenderem que cerca de 50% do PIB mundial depende da natureza e por isso é necessário incluir, de forma apropriada e consciente, a natureza no cálculo do PIB e do VAB, como ativo e como passivo.
Estamos na realidade a voltar ao Adam Smith!
O capitalismo defendido por Adam Smith não é este capitalismo de certa forma egoísta que ignora o potencial mal estar que as nossas decisões podem gerar nos outros.
Antes de Adam Smith escrever o livro sobre a riqueza das nações, publicou um outro sobre sentimentos morais. Neste livro, ele define o ser humano como um ser ético, capaz de sentir prazer com a felicidade dos outros, existindo sempre uma esfera individual de cada um que tem de ser respeitada. Adam Smith criou a ideia de economia de mercado, no pressuposto de que o ser humano tinha bom senso, era um ser bom que se preocupava com os outros.
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