Estudante de Doutoramento de Economia no ISEG, Lisbon School of Economics & Management
Quando somos crianças e nos perguntam “o que queres ser quando cresceres?”, as respostas tendem a ser mirabolantes, pois há quem queira ser desportista, astronauta, ou há quem apenas deseje “ser como o pai ou mãe”.
À medida que crescemos, começamos a ter de pensar melhor no tema com a escolha das áreas do Ensino Secundário e Licenciatura. O dilema é que, aos 15 e aos 18 anos, somos ainda infantis e “não nos conhecemos o suficiente”, para decidir “a profissão das nossas vidas”.
No meu caso particular, no entanto, a escolha foi simples. Desde cedo soube que queria ser economista. Como também gostava de História, queria descobrir as razões para o declínio de Portugal ao longo dos séculos.
Assim, no ensino secundário acabei por escolher a área de Economia. A escolha revelou-se acertada, pois no início do meu 10º ano, deu-se a Grande Recessão, com a falência do banco Lehman Brothers.
Para mim, o amor pela economia torna-se mais forte, em períodos de crise económica, como foram a Grande recessão, o programa de ajustamento da Troika, ou o confinamento provocado pelo COVID-19.
Em 2011, entrei na licenciatura em Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão (“ISEG”). A escolha de licenciatura afigurava-se “o melhor de dois mundos”, pois era uma área valorizada pelo mercado de trabalho, e era, a minha área de eleição. A minha escolha pelo ISEG foi relativamente simples. Era uma faculdade com prestígio, sendo a mais antiga faculdade de economia em Portugal, tendo sido ainda, o local onde importantes economistas e decisores políticos realizaram a sua formação.
Concluí a licenciatura, e ingressei no mestrado de economia monetária e financeira (“EMF”), também no ISEG. Era um mestrado exigente do ponto de vista quantitativo, sendo valorizado pelo mercado de trabalho. Os ex-alunos do mestrado costumavam referir que para ter sucesso no mesmo, era necessário ter “um tremendo espírito de sacrifício”.
No final de 2015, quando estava a terminar a parte curricular do mestrado, recebi uma proposta de trabalho para a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (“CMVM”).
Sendo a CMVM, o regulador português dos mercados financeiros, tem importantes competências a nível da supervisão de pessoas e entidades que participam nos mercados financeiros, nomeadamente, emitentes de valores mobiliários, intermediários financeiros, entidades gestoras, fundos de investimento, etc.
Pelo facto de o emprego ser relacionado com finanças, de a CMVM ser uma identidade com prestígio, e de as condições remuneratórias serem adequadas, aceitei a proposta de trabalho.
Na CMVM aprendi a diferença existente entre “regulação na teoria”, de acordo como foi ensinada em cadeiras como Finanças Públicas ou Microeconomia, e “regulação no mundo real”.
A “regulação no mundo real” apesar de envolver conceitos económico-financeiros, pois lida com valores mobiliários (acções, obrigações ou unidades de participação), não acontece no “vácuo”, necessitando de estar assente em pressupostos jurídicos, com destaque para o Regime Geral dos Organismos de Investimento Coletivo (“RGOIC”).
Na CMVM, como eu tinha a função de supervisionar fundos de investimento com uma tipologia muito díspar, de forma a tentar automatizar tarefas, tive necessidade de aumentar o meu conhecimento em Excel e em outras bases de dados.
Apesar de ter uma situação laboral estável, eu sentia saudades de “teoria económica”.
Como fui ficando desmotivado, acabei por mudar de emprego para o Banco Montepio.
O meu 1º dia de trabalho foi uma sexta feira, dia 13 de março de 2020, e foi um 1º dia pouco habitual. “O mundo como conhecíamos” já não existia, e as pessoas estavam com receio da pandemia de COVID-19. Nesse dia, referi por acaso, que tinha regressado de Espanha, recentemente. Com receio, os meus superiores “pediram-me” para fazer quarentena preventiva.
Felizmente eu não estava infetado, e na segunda feira seguinte, todos os colaboradores da instituição passaram a regime de teletrabalho.
No Banco Montepio as minhas funções eram a de banco depositário (responsável pela “guarda” de valores mobiliários). A dinâmica do emprego era semelhante à CMVM, ie, envolvia conceitos económico-financeiros, mas o peso jurídico era elevado.
Como estava num regime de teletrabalho, e como “não amava” o meu emprego, cheguei à conclusão que deveria seguir a minha vocação de ser professor/investigador em Economia.
Infelizmente, o prazo de submissão de bolsas para a FCT, já tinha expirado. Assim, procurei “alternativas”.
Acabei por encontrar um concurso para duas bolsas de Doutoramento em Economia, no ISEG. Recolhi a documentação necessária, incluindo um extenso plano de trabalhos e submeti a documentação, na expectativa de que “o mais provável era não ser escolhido”.
Eu estaria mentalizado que se isso acontece teria de continuar a trabalhar até ao próximo ano, onde poderia preparar e submeter a minha candidatura a bolsas de doutoramento financiados pela FCT.
Quando foram publicados os resultados, eu fui uma das pessoas que ganhou a bolsa de Doutoramento. Nesse momento senti-me uma das pessoas mais felizes do mundo. Estava prestes a puder cumprir o “meu sonho” apesar de prescindir de uma vida mais cómoda e estável do ponto de vista financeiro.
Apesar de entrarem centenas de alunos em cursos de economia anualmente, apenas uma minoria vai ser “economista”. Isto porque, existem poucos empregos de “economista”, em Portugal. A generalidade dos alunos vai trabalhar para banca, auditoria ou consultoria. Para quem quer ser “economista” em Portugal, as alternativas são reduzidas, destacando-se o Banco de Portugal, gabinetes de estudos de Ministérios, ou ainda bolsas de mestrado/doutoramento/pós-doutoramento. No último caso, esta via apenas se afigurável viável por extrema necessidade, ou em alternativa, se a pessoa tiver um interesse genuíno no trabalho realizado.
Para mim, não adianta ter uma vida estável, se não me sentir realizado exercendo a minha vocação.