No início da crise foi claro que haveria duas fases do ponto de vista económico (ou seja, além da resposta em termos de saúde pública e de epidemiologia):
Uma primeira fase, coincidente com o confinamento e com a fase mais aguda da crise sanitária, na qual o problema económico era uma questão de liquidez e de crédito das famílias.
A segunda fase é a da recuperação da economia. É uma fase que começou agora e em que o foco já não é a liquidez e crédito, mas sim a solvência e capitalização das empresas.
A prioridade na segunda fase, que já começou, tem de ser as empresas e o investimento privado. Uma maior competitividade da economia passa por uma forte atração da mobilidade do fator trabalho e do fator capital. E isso só é possível atuando em 3 vetores: simplificação fiscal, simplificação empresarial (tornado a atividade das empresas mais simples) e simplificação da regulamentação/burocracia.
O Estado tem sobretudo um papel do lado da oferta. Não vale a pena pensar em grandes obras públicas, com pouco efeito económico e que depois deixam “elefantes brancos” com custos operacionais elevados, gerando prejuízos que todos os anos têm de ser pagos pelos contribuintes. O investimento público deve-se concentrar em setores como a digitalização, a mobilidade e sustentabilidade, a melhoria dos serviços públicos e a redução dos custos de contexto, a melhoria do capital humano e a captação e potenciação de investimento privado, diversificando a economia e fomentando uma maior industrialização, maior valor acrescentado e melhor emprego.
Um bom exemplo de investimento público é o programa para retirar o amianto das escolas que ainda têm este material perigoso. Potencia o emprego no setor da construção de forma rápida e a nível local. Outro bom exemplo de investimento público seria tornar quase todos (não digo todos porque tal pode ser impossível) os edifícios públicos com eficiência energética de nível A. Fomentaria o emprego local, poderia ser feito com recurso sobretudo a materiais e equipamentos de produção nacional e reduziria a fatura energética do país.
O problema de países como Portugal ou Itália não é o défice, mas sim a dívida pública. Esta crise mostra bem a razão imperiosa de ter uma dívida pública baixa. Se Portugal tivesse uma divida pública de 50% ou 60%, teria agora margem para ter 10% de défice em 2020. Mas não tem essa margem. Os keynesianos gostam muito de falar da importância da atuação pública em períodos recessivos, com políticas anti cíclicas. Tendem é a esquecer que Keynes era um forte defensor de disciplina orçamental e superavits em períodos de crescimento económico. Exatamente para que exista margem de atuação quando a crise chega.
Portugal precisará de atuar em 3 níveis: Um plano de recapitalização e solvência das empresas; Um plano de recuperação económica, melhorando a competitividade da economia e atraindo investimento; Um plano credível e ambicioso de redução da dívida pública, a 2 tempos: nos 2-3 anos seguintes, reduzir a subida de dívida pública que teremos em 2020/2021 e depois reduzir substancialmente a dívida pública até ao final da década.
Apenas com um plano económico, mas também um plano de redução da dívida pública, poderá ser possível, por um lado, restaurar a confiança dos agentes económicos e recuperar a economia, e por outro lado, não ter um grave problema de acesso aos mercados financeiros no médio prazo. Ou seja, evitar que esta crise do Covid-19 acabe, por um lado, numa crise económica, com menos crescimento, produto, emprego e riqueza, e por outro lado, evitar que após este período, tenhamos uma crise na nossa dívida soberana por via de uma dívida pública muito alta.
A economia nacional em fevereiro de 2020 tinha problemas estruturais graves: baixa competitividade, baixa produtividade dos fatores trabalho, capital e do total productivity factor, bem como baixo nível de investimento, elevados níveis de endividamento das empresas (juntamente com o Estado e as famílias).
A economia Portuguesa desde 2000 que praticamente estagnou. Tem crescido a uma média de 0.5% ao ano em termos reais. Passou por quatro recessões (2001-2002; 2004; 2008-2009 e 2011-2013). Em termos reais, o PIB per capita subiu, entre 1999 e 2019, cerca de 8% apenas, um valor inferior à média dos países da União Europeia e muito inferior quando comparado com os países da União Europeia numa situação de desenvolvimento e competitividade económicos semelhantes a Portugal.
No relançamento da economia, recuperando o potencial perdido durante estes meses, terá de haver uma ação forte das políticas públicas. Mas desenganem-se os que acham que voltaremos a políticas keynesianas e sobretudo a grandes programas de obras públicas. Não será disso que o país precisará. Dada a elevada dívida pública, o país precisará sobretudo de medidas do lado da oferta (“supply-side”). Medidas que permitam captar investimento, sobretudo estrangeiro e de elevado valor acrescentado. Medidas de redução dos custos de contexto, simplificação administrativa e da burocracia. Medidas que melhorem a qualificação da mão-de-obra. Medidas que simplifiquem e estabilizem o sistema fiscal, tornando-o mais competitivo. Medidas que aumentem o nível de inovação e desenvolvimento tecnológico.